TORNE-SE ÉBRIO

Torne-se ébrio, vez em quando

De quando em vez, ébrio se torne.

Assim, podereis manipular a vossa tristeza

A vossa angústia e as injustiças notórias próximas a tudo.

Torne-se ébrio, vez em quando

De quando em vez, ébrio se torne.

E anestesie a coisa suja que você se mostra ser

A inutilidade de suas mesquinharias à sociedade

Embebede-se de música, de álcool, de poema, de sexo, sei lá.

Faça-se de esquecido perante toda essa “ridicularidade”.

Esse absurdo encantador de alegrias falsas.

É melhor embriagar-se sobriamente

Do que ser um sóbrio inconscientemente embriagado por coisas fúteis.

Torne-se ébrio, vez em quando

De quando em vez, ébrio se torne.

Engula cada nota daquela música perfeita

Toque cada gole da sua bebida preferida

Injete cada verso daquele poema insubstituível

Engula cada líquido expelido pelo seu amor, mas

Não compactue sobriamente com esta realidade servil e desumana.

Se nada podes fazer

Embriague-te! Beba! Beba até estourar suas alças intestinais

Até rasgar o seu fígado e heroicamente tornar-se ébrio “martirizado”.

Embriaga-te daquilo que é mais salutar a ti

E mais necessário ao seu momento.

Duas mil páginas de Drummond
Todas as músicas dos Beatles

Seis orgasmos numa noite

E até, três litros de aguardente quentíssima com sal.

Apenas deixe a embriaguez lhe penetrar.

Para que fujas dessa imundície crescente materialista e inóspita

E não te tornes cúmplice inerte da decadência das artes.

Assim, a substância adormecedora lhe cairá bem.

E a realidade absurda se afastará, pelo menos por enquanto.

Torne-se ébrio, vez em quando

De quando em vez, ébrio se torne.

WALDISNEY F. BURGUEIS (13/08/2010)