A escola que desejamos e seus desafios
Especialista em mudanças na educação presencial e a distância
Há um descompasso crescente entre os modelos tradicionais de ensino e as novas possibilidades que a sociedade já desenvolve informalmente e que as tecnologias atuais permitem. A maior parte do que se ensina não é percebido pelos alunos como significativo.Uma boa escola depende fundamentalmente de contar com gestores e educadores bem preparados, remunerados, motivados e que possuam comprovada competência intelectual, emocional, comunicacional e ética. Sem bons gestores e professores nenhum projeto pedagógico será interessante, inovador. Não há tecnologias avançadas que salvem maus profissionais.
São poucos os educadores e gestores pró-ativos, inovadores, que gostam de aprender e que conseguem por em prática o que aprendem. Temos muitos profissionais que preferem repetir modelos, obedecer, seguir padrões, que demoram para avançar. São mais os que adotam uma postura dependente do que os autônomos, criativos, pró-ativos. Sem pessoas autônomas é mito difícil ter uma escola diferente, mais próxima dos alunos que já nasceram com a Internet e o celular.
Uma boa escola precisa de professores mediadores de processos de aprendizagem vivos, criativos, experimentadores, presenciais-virtuais. De professores menos “falantes”, mais orientadores; de menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, experimentação, desafios projetos.
Uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos; que aprendam com os que estão perto e também longe, conectados, com os mais experientes ajudando aos que têm mais dificuldades.
Uma escola com apoio de grandes bases de dados multimídia, de multi-textos de grande impacto (narrativas, jogos de grande poder de sensibilização), com acesso a muitas formas de pesquisa, de desenvolvimento de projetos.
Uma escola que privilegie a relação com os alunos, a afetividade, a motivação, a aceitação, o reconhecimento das diferenças. Que dê suporte emocional para que os alunos acreditem em si, sejam autônomos, aprendam a analisar situações complexas e a fazer escolhas cada vez mais libertadoras.
Uma escola que se articule efetivamente com os pais (associação de pais), com a comunidade, que incorpore os saberes dela, que preste melhores serviços. A escola pode estender-se fisicamente até os limites da cidade e virtualmente até os limites do mundo. A escola pode integrar os espaços significativos da cidade: museus, centros culturais, cinemas, teatros, parques, praças, ateliês, centros esportivos, centros comerciais, centros produtivos, entre outros. A escola pode trazer as manifestações culturais e artísticas próximas, fazendo dos alunos espectadores críticos e produtores de novos significados e produtos. Pode inserir atividades teóricas com as práticas, a ação com a reflexão. Trazer pessoas com diversas competências para mostrar novas possibilidades vocacionais para os alunos.
A escola e a universidade precisam reaprender a aprender, a serem mais úteis, a prestar serviços mais relevantes à sociedade, a saírem do casulo em que se encontram. A maioria das escolas e universidades se distancia velozmente da sociedade, das demandas atuais. Sobrevivem porque são os espaços obrigatórios e legitimados pelo Estado. Os alunos freqüentam muitas aulas porque são obrigados, não porque sintam que vale a pena. As escolas deficientes e medíocres atrasam o desenvolvimento da sociedade, retardam as mudanças.
A educação poderá tornar-se cada vez mais participativa, democrática, mediada por profissionais competentes. Teremos muitas instituições que optarão por uma postura mais conservadora, que manterão o sistema disciplinar, o foco no conteúdo; mas, mesmo nelas, o ensino-aprendizagem não se fará somente na sala de aula. Haverá maior flexibilidade de tempos, horários e metodologias do que há atualmente. Outras – e esperamos que muitas – caminharão para tornar-se ou continuar sendo organizações democráticas, centradas nos alunos; que desenvolvem situações ricas de aprendizagem, sem asfixiar os alunos, incentivando-os; que desenvolvem valores de colaboração, de cidadania em todos os participantes.
Escolas não conectadas são escolas incompletas (mesmo quando didaticamente avançadas). Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão excluídos de uma parte importante da aprendizagem atual: do acesso à informação variada e disponível on-line, da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas digitais, portais educacionais; da participação em comunidades de interesse, nos debates e publicações on-line, em fim, da variada oferta de serviços digitais.
Quanto mais tecnologias avançadas, mais a educação precisa de pessoas humanas, evoluídas, competentes, éticas. A sociedade torna-se cada vez mais complexa, pluralista e exige pessoas abertas, criativas, inovadoras, confiáveis. O que faz a diferença no avanço dos países é a qualificação das pessoas. Encontraremos na educação novos caminhos de integração do humano e do tecnológico; do racional, sensorial, emocional e do ético; do presencial e do virtual; da escola, do trabalho e da vida em todas as suas dimensões.
Texto publicado no Guia da Boa Escola.
A qualidade da nossa escola
muito comum a gente ouvir dizer que
o ensino público no Brasil é de má
qualidade. Mas o que é qualidade? Será
que uma escola considerada de qualidade há
cem anos ainda hoje seria vista assim? Será
que uma escola boa para uma população que
vive no interior da floresta amazônica também
é boa para quem mora num centro urbano?
Como todos vivemos num mesmo país, num
mesmo tempo histórico, é provável que compartilhemos muitas noções gerais sobre o que
é uma escola de qualidade. A maioria das pessoas
certamente concorda com o fato de que uma
escola boa é aquela em que os alunos aprendem
coisas essenciais para sua vida, como ler e escrever, resolver problemas matemáticos, conviver
com os colegas, respeitar regras, trabalhar em
grupo. Mas quem pode definir bem e dar vida às
orientações gerais sobre qualidade na escola, de
acordo com os contextos socioculturais locais,
é a própria comunidade escolar. Não existe u m
padrão ou uma receita única para uma escola
de qualidade. Qualidade é um conceito dinâmico,
reconstruído constantemente. Cada escola tem
autonomia para refletir, propor e agir na busca
da qualidade da educação.
Os Indicadores da Qualidade na Educação
foram criados para ajudar a comunidade escolar
na avaliação e na melhoria da qualidade da
escola. Este é seu objetivo principal. Compreendendo seus pontos fortes e fracos, a escola tem
condições de intervir para melhorar sua qualidade de acordo com seus próprios critérios e
prioridades. Para tanto, identificamos sete
elementos fundamentais – aqui nomeados de
dimensões – que devem ser considerados pela
escola na reflexão sobre sua qualidade. Para
avaliar essas dimensões, foram criados alguns
sinalizadores de qualidade de importantes aspectos
da realidade escolar: os indicadores.
O que são indicadores?
Indicadores são sinais que revelam aspectos de determinada realidade e que
podem qualificar algo. Por exemplo, para saber se uma pessoa está doente, usamos
vários indicadores: febre, dor, desânimo. Para saber se a economia do país vai bem,
utilizamos como indicadores a inflação e a taxa de juros. A variação dos indicadores
nos possibilita constatar mudanças (a febre que baixou significa que a pessoa está
melhor; a inflação mais baixa no último ano indica que a economia está melhorando).
Aqui, os indicadores apresentam a qualidade da escola em relação a importantes
elementos de sua realidade: as dimensões.